Gosto do que diz Oscar Niemeyer: "o projeto começa pela escrita e acaba através dela". Niemeyer esclarece que ninguém (e especialmente o leigo) consegue captar a idéia do projeto, global e minuciosamente, somente através do desenho.
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É, entendo: um rabisco pode ter mil condicionantes... é preciso detalhá-las.
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Assim: pra se aumentar o tamanho de um ambiente não basta levar a parede um pouquinho mais pra lá - como certos clientes pensam que é -, não é mesmo? Uma paredinha 10 centímetros mais pra lá pode ter mil consequências (plásticas, estruturais, funcionais... sei lá!)... Esta mudança vai mexer com o "ego" do arquiteto, criar dilemas, dúvidas, ansiedades... Não que, necessariamente, não dê pra realizar esta mudança, mas é preciso fazer todas as mil análises que a cercam. Somente após essas mil análises, o arquiteto vai encontrar a paz. E, ainda, talvez ele conclua que é mais razoável deixar a parede como está, mesmo, não aumentando o ambiente e sim, por exemplo, diminuindo-lhe a função.
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Então... novo dilema: como é que eu vou explicar isso pro cara (o cliente)? Especialmente porque, no caso, o cara vai pensar que o arquiteto nem se empenhou pra fazer o que ele queria. Não percebe que o arquiteto foi até o infinito, pra tentar atendê-lo (isso, se o arquiteto considerar plausível a solicitação do cliente) e... voltou. Simplesmente: voltou!!! Indo e voltando. Pro cliente, aliás, o arquiteto nem foi.
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O leigo não consegue entender que, muitas vêzes, não se pode ter aquilo que ele quer porque há itens mais importantes a considerar que inviabilizam a sua pretensão... O cliente, via de regra, está focado, obcecado pelo seu objetivo. É função do arquiteto abrir-lhe os horizontes. É preciso ter domínio do projeto e ter um poder de crítica muito aguçado para poder escolher aquilo de que se abrirá mão.
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Mas... é fundamental: muitas vêzes você vai ter que abrir mão de alguma coisa porque as soluções são antagônicas, não se pode ter tudo.
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É muito simples: muitas vezes, não se pode ter tudo. Ponto.
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Como canta Mick Jagger: "You can't always get what you want.".
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Como canta Mick Jagger: "You can't always get what you want.".
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E às vêzes, surpreendentemente, o arquiteto abre mão de parâmetros inimagináveis pra alcançar o que ele considera o mais importante. Aliás, considero estar aí o grande diferencial do arquiteto: o saber "abrir mão" ("abrir mão" também é criar).
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Diga-se de passagem, o arquiteto é um despreendido, por conceito, não se apega a nada. Tenho uma amiga arquiteta, por exemplo, que projetou um telhado maravilhoso pra sua casa. O telhado da casa dela é maravilhoso!!! Chove dentro da casa, mas... isso é de menos: o telhado é um desbunde!!! - . O próximo telhado que ela projetar, provavelmente, será um desbunde funcional. Dá pra entender o que é quebrar barreiras? Quebrar barreiras é pensar o impensável.
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Diga-se de passagem, o arquiteto é um despreendido, por conceito, não se apega a nada. Tenho uma amiga arquiteta, por exemplo, que projetou um telhado maravilhoso pra sua casa. O telhado da casa dela é maravilhoso!!! Chove dentro da casa, mas... isso é de menos: o telhado é um desbunde!!! - . O próximo telhado que ela projetar, provavelmente, será um desbunde funcional. Dá pra entender o que é quebrar barreiras? Quebrar barreiras é pensar o impensável.
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O interessante disto tudo é que é justamente aí que reside a evolução... na quebra de conceitos, na quebra de paradigmas. É o rompimento que nos faz crescer.
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É... essa vida não é fácil!!!.
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Estas argumentações, estes vais e voltas do projeto, com o cliente e, especialmente, consigo mesmo, acredito, são a maior angústia do arquiteto. Na verdade este trabalho interno resume o ato de projetar em arquitetura: projetar em arquitetura é a arte de sintetizar todas as mil condicionamentes (estéticas, estruturais, funcionais, culturais, sociais, econômicas, históricas, geográficas, psíquicas, familiares, políticas, físicas, além de infinitas outras - e que variam de projeto para projeto) num traço (melhor... em cada um dos quase infinitos traços que compôem um projeto).
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E depois, o povo quer que eu me lembre onde deixei minhas chaves!!!... Sempre as deixo no lugar,... claro!!! O difícil é lembrar onde é o lugar delas.
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A arquitetura já é bastante complexa quando envolve um só ser humano, o arquiteto... quando envolve uma terceira pessoa, o cliente, torna-se ainda mais. Imagine agradar famílias, corporações inteiras!!!
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Então, de fato... dissecar o projeto através de palavras é um bom caminho.
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Bom lembrar que realizar uma obra de arte, assim como projetar ou escrever, é tarefa que nunca se acaba.
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Observação:
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Bom lembrar que realizar uma obra de arte, assim como projetar ou escrever, é tarefa que nunca se acaba.
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Observação:
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Essa coisa de dizer que o projeto "começa" pela escrita não tenho certeza se é do Niemeyer ou se é coisa da minha cabeça, mesmo, já que eu, sim, acredito nisso. Niemeyer, certamente, acredita no "memorial descritivo", a palavra descrevendo o projeto realizado. A palavra buscando as condicionantes para o projeto, não tenho certeza se é coisa de Niemeyer, não.
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