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Ah, as cruéis diferenças entre a prancheta e a realidade!!!
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Este é um assunto seriíssimo.
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Quando comecei a construir, desistindo, então, de somente projetar (e construindo, necessariamente, somente aquilo que projeto), o fiz porque me dei conta de que, somente projetando, eu me quebrava de tanto trabalhar e os louros (eu quero dizer: o dinheiro) iam para outro. Cansei!!! Afinal, penso: "também tenho família pra sustentar!"
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Amo o processo criativo do projeto, apesar do desgaste e do cansaço (pra não dizer... esgotamento) que ele sempre traz, mas, pé no chão como sou, não poderia continuar me acabando só com o projeto (já que eu garanto: o bom projeto suga toda a energia do projetista).
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Ninguém valoriza o projeto da forma como ele deve ser valorizado... especialmente, acredito, por um motivo básico: sempre que um projeto é bom, ele é simples. Você vê um projeto bem realizado e o considera óbvio... tão óbvio que: "Claro que tinha que ser esta a solução, não há outra possível.". Então... parece fácil. Só parece. Não é.
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O bom projeto é simples e até mesmo... o bom projeto é óbvio (que saco!!!), mas não é fácil chegar lá. Atingir a simplicidade é tarefa árdua. (e esta premissa é válida pra tudo nesta vida, não somente para o processo criativo de um projeto). Além disso, só pra completar:... é na simplicidade que está o valor... de tudo.
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Certa vez li uma propaganda da "Apple" certamente apoiada por Steve Jobs (de quem, por sinal, eu não sou fã fervorosa) que resume o conceito da empresa: "A simplicidade é máxima sofisticação". Fazer o quê... tenho que concordar, não é? 100%.
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Certa vez li uma propaganda da "Apple" certamente apoiada por Steve Jobs (de quem, por sinal, eu não sou fã fervorosa) que resume o conceito da empresa: "A simplicidade é máxima sofisticação". Fazer o quê... tenho que concordar, não é? 100%.
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Muitas vêzes o cara vê um projeto cheio de rebuscamentos, vais e voltas, e o considera difícil de ser atingido. Engana-se: O difícil é atingir o simples. O difícil é atingir o óbvio! Meu!!!: é muito trabalhoso!!! Exige muito empenho e dedicação e o mais irritante, como já disse: o resultado é óbvio!!! Tão óbvio que dá raiva: "como é que não fiz isso de cara!!!".
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Somente a maturidade traz a paciência pra entender que é necessário passar por todo um processo exaustivo pra se atingir bem um objetivo. Nada vem de graça, não é mesmo?
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Sempre entendi que todo projeto tem que ser tão bonito a ponto de poder ser pendurado na parede: é uma obra de arte. O bom projeto tem que transmitir emoção, como um Van Gogh, por exemplo. O bom projeto tem que ter equilíbrio, cor, força, temperamento, audácia, como qualquer pintura que se preze. Então... um projeto de arquitetura é um quadro. Algo pra se pendurar na parede, mesmo.
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Em certa ocasião, explicando a uma amiga para quem estava fazendo um estudinho, a minha dificuldade em desvincular a planta do volume do projeto, defini arquitetura como poesia: tudo tem que rimar. É mais ou menos isso.
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Em certa ocasião, explicando a uma amiga para quem estava fazendo um estudinho, a minha dificuldade em desvincular a planta do volume do projeto, defini arquitetura como poesia: tudo tem que rimar. É mais ou menos isso.
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Desde que comecei a construir, passei a entender que o objetivo do arquiteto vai muito além do projeto pra se colocar na parede... Passei a entender que o objetivo do arquiteto é a obra acabada, em si. O fim do projeto é se tornar uma pintura, mas o objetivo do arquiteto vai além... é transformar a sua pintura em uma escultura funcional!!!
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Desde que comecei a construir, passei a dar menor importancia pro papel (sem menosprezar, em momento algum, o seu valor) e maior importancia pra construção (a maquetinha 1:1). Passei a entender porque nos países evoluídos é o arquiteto quem tem a atribuição de tocar uma obra. Somente depois que passei a tocar obra (coisa que o fiz, inicialmente, de forma mercenária) é que consegui perceber o encanto que há por trás desta tarefa (e a inutilidade de 50% de tudo aquilo que os arquitetos colocam no papel, da forma como vem sendo feito).
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Detalhamento, por exemplo: claro que o detalhamento é importante!!! Mas entendo que o detalhamento deve acompanhar a obra (a partir de determinado ponto). Muitas vezes, por uma eventualidade da obra, que, esqueça, não pode ser prevista, uma porta tem que passar a não mais existir (exemplo, claro)... então... todos os desenhos que envolviam o detalhamento daquela porta são simplesmente jogados no lixo (baldes de suor de arquiteto jogados ralo abaixo). Além disso, a janela que passa a existir no lugar daquela porta, (exemplo de novo, óbvio), não fica acompanhada de seu respectivo detalhamento: vale uma janela qualquer, mesmo!!!
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Também passei a entender que de nada adiantam aqueles desenhos todos rebuscados que mais parecem uma fotografia da obra. O final do trabalho do arquiteto não é aquele desenho maravilhoso, com nuvens volumosas no céu azul e com aquela menina levando o seu cachorrinho pra passear em frente à obra. Isto é molho!... é desenho de venda (algo pós o trabalho do arquiteto). O que interessa, para a obra, é o prato principal, não o molho!
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O leigo precisa entender o volume porque... qualquer um vai conseguir imaginar o céu e a menina passeando em frente à obra
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Certo é, devo admitir, que para definição de materiais e cores, e pra que se consiga fazer bons estudos de iluminação, as novas técnicas de desenho têm nos ajudado bastante.
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O objetivo do trabalho do arquiteto é a obra realizada. O desenho é só um meio de se chegar lá. O desenho pode ser simples (aliás, deve). Ele precisa ser claro, objetivo, completo e... importantíssimo, o desenho precisa ser conciso: o desenho não deve repetir informações. Como diria, meu "mestre" - da prática - o Onaldo (Pinto de Oliveira - arquiteto já falecido), o desenho é "precioso" (e ele queria atingir, ao dizer isso, os dois sentidos da palavra: o da precisão e o da importância).
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Também entendo que o arquiteto de verdade não é o cara que traz o projeto pro escritório pra outros arquitetos desenvolverem, como a gente vê em muitos escritórios, por aí (especialmente naqueles onde o arquiteto já ficou famoso). Este é o angariador, o empresário. O arquiteto é o cara que põe a mão na massa (na cinzenta, especialmente) e determina, pessoalmente, o rumo de um projeto, de uma obra.
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O arquiteto deveria, sempre, ajudar a tocar a obra que realiza o seu projeto (e não ir lá, eventualmente, pra ver como as coisas estão andando). Indispensável, claro, também, é a presença do engenheiro.
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Entendo, hoje, então, que a função do arquiteto não acaba na prancheta, acaba, sim, na entrega das chaves.
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UUUUUUUUUfa!!!!!
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Pra finalizar... um comentário de Niemeyer sobre a sua obra: "O importante é olharmos pro céu e nos darmos conta de o quanto somos pequininhos...".
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Pra finalizar... um comentário de Niemeyer sobre a sua obra: "O importante é olharmos pro céu e nos darmos conta de o quanto somos pequininhos...".
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