"Escrever foi a maneira que encontrei para, palavra por palavra (verbo ad verbum), depurar minhas idéias. É um ato quase inconsciente, necessário, obrigatório... uma terapia!!!

A divulgação do escrito tem a intenção de ir além, ainda, nesta, que não deixa de ser, busca inquietante e incessante do crescimento pessoal."
Vera Regina da Cruz

18 de jun. de 2011

AHHH... FRANCISCO BELTRÃO!!!

Meu pai era Promotor de Justiça no interior do estado desde, exatamente, o ano em que eu nasci... Ele foi morar no Sudoeste e vinha nos ver em Curitiba de quando em vez. E nós íamos pra Francisco Beltrão nas férias...
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Gente... era muuuuito difícil ir pra e vir de Francisco Beltrão!!!
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Lembro das longas viagens de jipe que duravam dois dias inteiros... das correntes que eram colocadas nos pneus dos carros pra se conseguir passar por trechos de puro lodaçal... das estradas que, de tão estreitas, pra se cruzarem, um dos carros tinha que ficar escondido dentro do mato ou subir no barranco lateral ao caminho, até que o carro no sentido contrário conseguisse passar.
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O barranco lateral ao caminho, aliás, também era usado quando o jipe perdia o freio numa descida, coisa que devia acontecer com frequencia, pois lembro-me, perfeitamente bem, dos gritos: “Barranqueie!!! Barranqueie!!!” (credo... como é que eu fui me lembrar disto! - barranquear significava enfiar o jipe no barranco pra que ele não continuasse descendo, descontrolado, ladeira abaixo e o estrago fosse, ainda, maior).
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 O motorista do carro tinha que ser meio que seu mecânico, também, pois as distâncias eram muito grandes e não haviam oficinas suficientes ao longo do caminho. Os consertos eram sempre de improviso e inusitados. Minha mãe, por exemplo, sempre tinha lixa de unhas nas viagens. Não sei direito, acho que era pra descolar as velas, o platô (???), ou qualquer coisa assim. Sei que lixa de unhas fazia parte do equipamento do carro. Havia, ainda, uma tal de correia que, virou-mexeu, era substituída pela cinta que segurava as calças de meu pai. Também, ainda, é forte em minhas narinas o cheiro de lona de freios queimada, normalmente de caminhões, em descida de serra.
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Minha mãe, por sinal, era uma excelente co-pilota. Orientava, o tempo todo, o meu pai, olhando pela direita do carro à frente e dizendo: "Vai!", quando se sentia segura pra ultrapassar. Nem consigo imaginar uma situação dessa hoje em dia: é, certamente, muito perigoso. Não sei se era assim porque as estradas eram muito estreitas e meu pai não podia ficar um pouco a esquerda do veículo à frente pra ver à distância, preferindo sempre ficar bem mais à direita, ou, se era assim pra que minha mãe ficasse atenta e participasse, continuamente, da direção (ou seria da aventura???) junto com ele - é, desde cedo aprendemos que os homens não gostam de fazer nada sozinhos - . E... por falar em ultrapassar, isso era o que mais almejávamos quando, à nossa frente, ía um caminhão, normalmente um "fenemê", carregado de porcos. Ai... que cheiro insuportável!!!
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Lembro das longas esperas nas barrancas de rios pra passar de balsa pois não haviam pontes e, também, dos hotéis onde pernoitávamos no caminho que, como as construções em Francisco Beltrão, mais pareciam aquelas construções de filmes do faroeste americano (acho, especialmente, que tinham este aspecto porque elas eram todas de madeira bruta, sem pintura, e a madeira envelhecia, deixando toda a paisagem com um tom meio acinzentado... feio e frio!!!)...
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Lembro-me, também, dos monótonos e gélidos campos de Palmas... trecho de viagem onde eu sempre ficava enjoada dentro do carro, pois a paisagem não mudava nada por quilôôôôôôôômetros a fio. Toda a viagem era terrível, mas este trecho era especialmente terrível...
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Eu adorava Francisco Beltrão... Lembro de uma ocasião em que, já quase chegando na cidade, na serrinha próxima, meu pai perdeu a direção. O jipe começou a rodopiar. Rodopiava, rodopiava... naquele lamaçal. Até que o carro parou no sentido contrário ao que estávamos indo... Esta história é sempre lembrada na minha família... Eu, pequenininha, comecei a chorar e dizia, porque o carro estava no sentido contrário ao de Francisco Beltrão: "Eu não quero voltar pra Curitiba... Eu não quero voltar pra Curitiba... ". Claro, né... todos caíram na gargalhada. Meu pai arrumou o sentido do jipe e seguiu viagem... pra Francisco Beltrão.
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Lembro-me perfeitamente bem de quando o Brasil perdeu a Copa do Mundo de 66 (na Inglaterra, eu acho)... Fazendo a viagem de volta pra Curitiba, nos campos de Palmas, escutávamos tocar no rádio: "Feola... por favor vá embora... é minh'alma que chora... está vendo o meu fim..."... uma paródia à música "Tristeza", cantada por Jair Rodrigues, e que fazia sucesso, à época.
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Falando em música, não posso deixar de lembrar que gostava muito de escutar "Julia", dos "Beatles", no rádio quando a música foi lançada (adoro a música até hoje). Por acaso, Julia é o nome de minha mãe. Aliás, somente muito mais tarde, vim a compreender a real importância deste nome na história de minha família...
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E também lembro com muita clareza, até mesmo do lugar do quintal aonde me encontrava, da primeira vez em que ouvi "Sgt. Pepper's", na minha vida. Aquela música "was so weird to me"... com todos aqueles sons estranhos e paradinhas e vais e voltas e altos e baixos. Lembro de ter ficado impressionada com aquele som. É muito clara pra mim, esta lembrança!!! Só agora, olhando a história, posso mensurar a dimensão do que estava sentindo na ocasião, pois o álbum da banda é considerada uma revolução musical.
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Voltando a Francisco Beltrão... lembro, ainda, das apavorantes viagens de téco-téco - que era como se chamavam aqueles aviõezinhos monomotores (eu acho...) que meu pai contratava, eventualmente, pra nos poupar da viagem por terra, já que não havia vôo de carreira.
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Lembro do pó vermelho. Não era terra aquilo que se via no chão. Era pó... de tão soltinho e fino. Brincando no porão da casa, certa vez, deitada de barriga pra baixo, saí de lá e fui, correndo, ter com minha mãe pra saber o que eram aqueles pontinhos pretos na frente de todo o meu corpo.  Ela, apavorada, apressou-se em catar, um por um, os bichos de pé, antes que eles acabassem de adentrar o meu ventre.
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Meu pai trazia pra casa, todas as semanas, no verão, nove ou dez melancias enormes dentro do jipe pra aliviar-nos do calor quase insuportável da cidade. Quando ele não trazia melancias, íamos até as chácaras dos colonos pegar uva do parreiral pra nos deliciarmos, lá mesmo, no pé, e depois, ainda, em casa. Era muita fruta fresquinha que comíamos...
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Lembro-me de uma vizinha, a "Geni dos gatos", que tinha dúzias dos bichaninhos. Lembro-me de que foi em Francisco Beltrão que aprendi a andar de bicicleta, aos 3 anos e meio. Lembro-me muito bem do meu prato fundo de ágata, branco, decorado com frutinhas vermelhas e folhas verdes, onde eu gostava de comer tudo separado: primeiro o arroz, depois o feijão, depois a carne... sei lá o porquê (na verdade, acho que minhas manias vêm desde então).
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E lembro, também, dos banhos de bacia que minha mãe nos dava, sobre a mesa da cozinha. Certa vez, eu, pequena, já sem roupa, mas, ainda de bota ortopédica, entrei na bacia quando minha mãe, preparando o banho, havia colocado somente a água fervente na bacia e ainda não tinha misturado a água fria. Talvez seja esta uma de minhas memórias mais remotas, mas, não tenho a lembrança completa. Eu quero dizer, não me lembro de ter queimado os pés e nem da dor que, certamente, teria sentido. Acho, na verdade, que a botinha que eu usava era algo de tão hermético (além de, isso me lembro bem, horrorosamente desconfortável) que, provavelmente, a água não conseguiu vencê-la. Uuuuufa!
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E... lembro também dos banhos, mais tarde, quando eu já era crescidinha, de chuveiro de campanha. Este chuveiro é um tipo de balde grandão, cuja alça é amarrada a uma corda que passa por uma roldana no teto e a gente prende a outra ponta num prego da parede. A gente abaixa o balde pra colocar a água e depois levanta, amarra a corda na parede e fica sob ele, abrindo uma torneirinha que tem por baixo para banhar-se. Era bem legal este banho, mas, uma vez, meu pai, pesadão, à época, tomando o seu banho sobre o chão de madeira que, claro, apodrecia com a água, quebrou as tábuas do piso e foi parar, peladão, lá na terra, mais ou menos um metro abaixo do piso da casa. Foi a maior gritaria: "Juliiiiiiinha!!!!!!"
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Água, por sinal, era uma dificuldade! Não havia água encanada, então, ela era bombeada, a mão, num espaço, lá fora, depois da varanda que circundava a casa, perto da garagem e do banheiro de tomar banho. Pois é... haviam dois banheiros, o outro, ficava aos fundos do terreno e tinha dois ambientes, um para os adultos, outro para as crianças. O das crianças, como o buraco da tábua pra se sentar era menor, tinha espaço pra duas crianças ao mesmo tempo... dava pra ficar batendo papo. Eiiia, que lembraça mais idiota!
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Enfim... lembro do pão quentinho embrulhado em uma folha de papel pardo que era rodopiado nas pontas pra não se soltar (era um tipo de pão francês, mas, era grandão e não era uma baguete porque uma baguete é muito fina)... Lembro da sorveteria, onde o meu pai nos levava sempre que eu pedia, do Hotel Dalla Vecchia, na esquina da nossa casa, da gritaria dos porcos de nossos vizinhos em época de abate, da comida do restaurante do Severino (especialmente do bife a cavalo - que eu não conseguia entender porque tinha esse nome - se fosse ôvo a cavalo, quem sabe eu teria desconfiado).
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Lembro de que eu gostava de brincar sozinha embaixo da mesa e de que, certa vez, minha irmã, pouco mais velha que eu, veio me acompanhar. Minha mãe, estranhando tamanho silêncio, foi espiar lá embaixo e pegou minha irmã, com uma tesourinha ponteaguda, dizendo pra eu ficar bem quietinha e parada enquanto ela cortava os meus cílios. Ai, ai... crianças!!!
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Lembro da árvore de figos, da árvore de caquis, da pereira onde ficava amarrada uma balança da qual, certa vez, eu caí, ficando desacordada por muito tempo, e lembro da macieira da vizinha onde, em uma ocasião, para pegar suas frutas, colocaram-me (minha irmã e a Cristina Pieruccini) em uma escada apoiada sobre uma cerca de tabuinhas ponteagudas. A escada escorregou e eu fiquei, pra sempre, com uma cicatriz superficial enorme na barriga. Não faz mal... as árvores sempre foram minhas grandes companheiras... adorava subir nelas e, com elas, brincar.
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Lembro da sala de cinema onde o Dr. Kit Abdalla fazia apresentações de teatro de comédia, das nossas fantasias de odalisca e de bailarina, no carnaval, do campo de aviação, onde, certa vez, em uma festa, acho que de aniversário da cidade, o mesmo Dr. Kit soltou do avião um boneco de tamanho natural, fantasiado de paraquedista, apavorando toda a platéia que assistiu, atônita, o "homem" espatifar-se no chão.
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Falando em Dr. Kit, claro, lembro de outros amigos de meus pais: o Dr. Walter Pecoits, a D. Manoela, o Dr. Aryzone com o seu filho o Aryzoninho, o Dr. Rubens e a Dra. Diva Sanson Martins (tinha mais médicos do que população na cidade), o Dr. Mário e a Maria Tereza, os Pieruccini, o Martinho Faust (cujos filhos iam entregar leite, em domicílio, a cavalo, com uma espécie de sacola retangular de pano que passava por sobre o animal, entre a sela e o cavaleiro, e que tinha escaninhos costurados nas laterais onde se encaixavam os litros de leite, acondicionados em garrafas de vidro de formato comum).
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Ahhh.... Francisco Beltrão!!!...

MEUS PENSAMENTOS...

  • Felicidade é ficar sem ar no museu de Van Gogh e, ainda assim, vibrar com o Clube Atlético Paranaense!

PENSAMENTOS ALHEIOS...

  • "Com o tempo você percebe que pra ser feliz com outra pessoa, você precisa, em primeiro lugar, não precisar dela" - Mário Quintana
  • "Embora ninguém possa voltar atrás e fazer um novo começo, qualquer um pode começar agora e fazer um novo fim" - Chico Xavier
  • "A grandeza não consiste em receber honras, mas em merecê-las" - Aristóteles
  • "Há tantos burros mandando em homens de inteligência que às vêzes fico pensando que "Burrice" é uma ciência". - Rui Barbosa
  • "Finge-te de idiota e terás o céu e a terra". - Nelson Rodrigues
  • "Somente o bravo mostra suas fraquezas". - desconhecido
  • "Com o conhecimento nossas dúvidas aumentam". - Goethe
  • "A vida se contrai e se expande proporcionalmente à coragem do indivíduo". - Anais Anin
  • "Uma pessoa permanece jovem na medida em que ainda é capaz de aprender, adquirir novos hábitos e tolerar contradições." - desconhecido
  • "Aquele que aprende mas não pensa está perdido; aquele que pensa mas não aprende está em grande perigo". - Platão
  • "Pessoas normais falam sobre coisas; pessoas inteligentes falam sobre idéias; pessoas mesquinhas falam sobre pessoas". - Platão
  • "O homem de bem exige tudo de si próprio; o homem medíocre espera tudo dos outros". - Confúcio
  • "Felicidade é comer jabuticaba no pé". - Flávio Gikovate
  • "Pra ser feliz com outra pessoa você precisa, em primeiro lugar, não precisar dela". - Mário Quintana
  • "O que mais preocupa não é o grito dos violentos, nem dos corruptos, nem dos desonestos, nem dos sem-caráter, nem dos sem-ética.O que mais preocupa é o silêncio dos bons!" - Martin Luther King
  • "Nenhuma mente que se abre para uma nova idéia voltará a ter o tamanho original." - Albert Einstein
  • "O amor é como o mercúrio. Deixe a mão aberta e ele permanecerá. Agarre firme e ele escapará." - Dorothy Parker, escritora
  • "Há dois tipos de pessoas: as que fazem as coisas e as que ficam com os louros. Procure ficar no primeiro grupo. Há menos competição lá." Indira Gandhi, estadista
  • Você não pode escolher como vai morrer. Mas pode decidir como vai viver agora." - Joan Baez, cantora
  • "A vida que não passamos em revista, sem reflexão, não vale a pena ser vivida." - Sócrates
  • "O início da sabedoria é a admissão da própria ignorância. Todo o saber consiste em saber que nada sei." - Sócrates
  • "Pedras no caminho? Guardo todas. Um dia vou construir um castelo...". - Fernando Pessoa
  • "Se um problema é grande demais... não pense nele. Se ele for pequeno demais... pra quê pensar nele? - ditado tibetano
  • "Um dia, mais modestos, os homens vão compreender como tudo é frágil e transitório e juntos, vão construir um caminho melhor." - Oscar Niemeyer